quinta-feira, 14 de abril de 2016

O pessimismo é o melhor dos conselheiros.

Schopenhauer.

O pessimismo é uma libertação da ilusão.


Não conheço a visão dos leitores, mas particularmente sou um grande admirador de Schopenhauer. Tenho esse pensador e escritor prussiano como uma referência em minha vida no campo artístico, sentimental, amoroso e na minha vida intelectual.

Schopenhauer, é considerado um dos maiores pensadores pessimistas da história da filosofia. Para ele o ser humano só tem uma única chance de ser feliz, é quando ele não nasce. 
Mas, como infelizmente nascemos. Cabe a nós, reduzir todo o sofrimento possível. Esforçamo-nos para conquistar algo que Schopenhauer admirava muito, a ausência da dor.
Para Schopenhauer, existir é essencialmente sofrer. A maior parte da vida é lutando, buscando, correndo e perseguindo a sombra de uma felicidade que jamais teremos. Diferentemente do que pensava o filosofo Kant, para Schopenhauer esse mundo não possui beleza, forma, arquitetura e planejamento próprio. Para ele esse mundo dança nos pés do acaso.

Esse mundo é o palco da tragédia, desordem, baixaria, sofrimento que assola, humilha, machuca os seres humanos. A história é apenas um relato da confusão, desentendimento que é a existência humana, que carrega a guerra e a discórdia por onde passa.

Schopenhauer em seu ateísmo chegou a dizer que se houvesse um Deus, ele não gostaria de ser tal Deus, pois as tristezas desse mundo e o sofrimento que aqui reina partiriam o seu coração.

As coisas na vida tem uma leve força natural para dar errado, é necessário muito esforço para que uma ideia nobre, sensata, verdadeira se fixe na sociedade, enquanto isso; baixaria, loucura, matança, vulgaridade é a marca registrada que as sociedades humanas possuem.

Muitos depositam sua fé, vida, felicidade no amor. Mas, para Schopenhauer o amor não tem ligação alguma com a felicidade. Para ele, o amor é uma necessidade biológica reprodutiva. Existe uma vontade inconsciente dentro de cada individuo. Que o obriga de momentos em momentos a ter de se apaixonar por outra pessoa.

Essa vontade não fala em nome do individuo, mas da espécie. É uma vontade de se perpetuar, continuar, prosseguir para além da vida. E essa vontade não se interessa pelos sentimentos, razões, motivos do individuo. Por isso, muitos dos amores, paixões e atrações resultam no sucesso da espécie( Filhos) porém na destruição da vida dos indivíduos( Pai e mãe).

Para Schopenhauer a natureza tem um gosto por eugenia. De forma simples, ela adora o que é perfeito. E no amor ela tende a fazer isso, como a preocupação da natureza com o amor humano não está ligado a felicidade, isso não a priva de desejar e promover uma prole, cria, filhos perfeitos.

Um homem alto namora uma mulher baixa, um homem gordo namora uma mulher magra.
Um homem de nariz pequeno, namorar uma mulher de nariz largo.

Inconscientemente, as pessoas são atraídas pelo oposto. Por que reside no oposto a ideia de perfeição. Para produzir um filho que não tenha o mesmo queixo grande e feio, nariz torto e engraçado, boca grande e estranha é necessário encontrar um parceiro que não tenha as mesmas características, logo busca-se o oposto. Caso você pergunte a elas se foi por esse motivo que escolheram seus parceiros, eles irão negar de todas as formas, porém, Schopenhauer percebeu que foram enlaçadas, enroladas e enganadas pela armadilha que a natureza nos prepara, conhecida pelo nome de amor.

Schopenhauer com sua metafisica do amor, tirou todas as esperanças dos amantes, trovadores, músicos, poetas e apaixonados. Pois, segundo sua visão o amor não tem relação alguma com a felicidade, mas ele pode ser considerado uma meta na vida. Mas isso seria absurdo para algumas pessoas. Elas chorariam ao saber que a razão pela qual dedicaram suas vidas é um engano.

Por que então, o pessimismo parece ser o melhor conselheiro? a resposta é muito simples. O motivo é que ele sempre irá dizer o que é mais provável.

É sempre mais provável que a pessoa ao qual nos relacionamos nos traia, que sejamos despedidos do emprego, que nossa saúde enfraqueça, que nossas amizades irão embora, que nosso dinheiro irá se esgotar rapidamente, que a juventude vai passar sem ser aproveitada. Que cada dia que se passe será pior que o anterior, esse ciclo irá se repetir até que o pior de tudo finalmente aconteça.

Historicamente o pessimismo sempre foi um bom conselheiro. Quando Hitler assumiu o poder na Alemanha, começou a empreender uma série de mudanças que de forma gradual iam demonstrando seu ódio ligado a judeus e outras minorias. Um bom exemplo foram as leis que proibiam o casamento de judeus com não judeus, alguns locais que não permitiam a entrada e a livre circulação de judeus, a proibição de judeus em faculdades, universidades e cargos públicos. Todos os judeus que de imediato enxergaram que isso era pernicioso, problemático, injusto e que resolveram fugir da Alemanha e começar novamente em outros países se salvaram.

Isso não se seguiu com aqueles que achavam que tais politicas nazistas seriam algo temporário, passageiro e acabaram tendo um triste fim. Holocausto, miséria, perseguição, discriminação, opróbrios...

No momento em que não mais confiamos, necessitamos e depositamos nossa fé nessas ilusões, acontece o que Schopenhauer defendia.
Que saibamos aproveitar o que é verdadeiramente bom e importante na vida. O estudo, a música, arte, pesquisa, criação de pensamentos...

Para Schopenhauer a arte tem uma função especial e obrigatória em nossa vida, a de suavizar o nosso caminho, de reduzir toda essa carga de sofrimento.
Ele tem uma bela frase que resume esse importante papel "A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida, e que se desenvolve para suavizá-la".

Dessa forma, desconfiemos das esperanças, das ingenuidades que as pessoas nos prometem e que nós prometemos a elas, dos paraísos a serem alcançados. E aproveitar de forma verdadeira aqueles poucos segundos de beleza que existem no tormento, na tempestade e no pesadelo que é a existência.

Existe beleza na tragédia.

- Elizeu Eufrasio.





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